Áreas protegidas da Amazônia têm maior desmatamento em 10 anos

A Amazônia brasileira perdeu o equivalente a três cidades do Rio de Janeiro de floresta apenas em unidades de conservação, entre agosto de 2020 a julho de 2021. Os quase 3.600 km2 tratam-se do pior índice em 10 anos de monitoramento por satélites feito pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Outros 6.914 km2 no entorno dessas áreas de preservação foram desmatados, evidenciando, segundo a ONG, a ameaça de destruição sobre estas áreas.

Ao longo do último ano, em meio aos piores meses da pandemia de Covid-19 no país, o Imazon registrou o aumento de 13% dessa perda de floresta se comparado ao ano anterior. De todas as áreas protegidas da Amazônia Legal, a APA (Área de Proteção Ambiental) do Tapajós, no sudoeste do Pará, foi a mais afetada.

Instalada entre os municípios de Itaituba, Jacareacanga e Novo Progresso, a APA Tapajós sofre com o avanço do garimpo clandestino de ouro. Estima-se que cerca de 40 mil garimpeiros atuam de modo irregular na região do Alto Tapajós, capital do garimpo na Amazônia. A região pode guardar, a até mil metros de profundidade, uma das maiores reservas de ouro do mundo, com 1.000 toneladas do minério, em um território às margens das rodovias Transamazônica, Transgarimpeira e BR-163.

Na região, a lavra é feita a céu aberto, por jatos d’água com pressão, num método chamado de desmonte hidráulico, que gera muita lama e, na sequência, usa mercúrio para formar uma amálgama e extrair o ouro. A lama assoreia os igarapés e até mesmo o rio Tapajós, afluente do Amazonas. Um laudo da Polícia Federal calculou que o garimpo lançava no Rio Tapajós em onze anos quantidade de sedimentos equivalente aos rejeitos lançados pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais, em 2015.

O uso de maquinário pesado nos garimpos, fenômeno que vem crescendo há cerca de dez anos, é o maior alvo de críticas. “O garimpo como foi concebido pelo legislador seria uma atividade pequena, artesanal, desenvolvida manualmente em até 50 hectares, mas o que se observa na prática é o uso de máquinas enormes, balsas de até R$ 2 milhões, que atuam sem estudos e que geram um impacto ambiental enorme; se passou de atividade artesanal a empresarial organizada, por que não submeter à legislação da mineração?”, questiona o procurador federal Paulo de Tarso Oliveira.

O Pará figura no levantamento como o Estado que mais teve territórios ameaçados pelo desmatamento. No ranking feito pelo Imazon com as dez áreas mais afetadas, sete ficam em solo paraense, duas delas no polo garimpeiro.

A Floresta Nacional do Jamanxim, que em 2019 foi vítima da queimada em massa realizada por fazendeiros e empresários no chamado Dia do Fogo — realizado para cobrar do presidente Jair Bolsonaro um afrouxamento do policiamento ambiental na região — ocupa o quarto lugar de unidades em destruição. Ela ainda é cortada pela rodovia Transgarimpeira que leva às lavras ao longo dos rios Jamanxim e Crepori.

As terras indígenas não escapam da pressão exercida pelo garimpo e o desmatamento. Residentes no polo garimpeiro, os Mundurukus atualmente encontram-se divididos, com uma minoria controlando órgãos que deveriam representar a população e defendem o garimpo em terras indígenas, e a população contrária à exploração nas terras da União.

As terras indígenas Kayapó e Munduruku são com larga vantagem os territórios indígenas mais afetados pelo garimpo. Segundo levantamento feito pelo MapBiomas, o garimpo ilegal em terras indígenas cresceu quase 500% na última década.

Em termos de desmatamento, a TI Yanomami, localizada no Amazonas e em Roraima, foi a que teve o maior número de ocorrências dentro de seu território. Os Ianomâmis foram alvo entre maio e junho deste ano de uma série de ataques por parte de garimpeiros. No dia 14 daquele mês o Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou o uso da Força Nacional de Segurança Pública para dar apoio aos indígenas

Segundo as lideranças indígenas, duas crianças Yanomami, de 1 e 5 anos, foram encontradas mortas na comunidade de Palimiú depois de um ataque armado de garimpeiros contra indígenas, na Terra Indígena Yanomami em Roraima.

Áudios de conversas entre garimpeiros que atuam na Terra Indígena Yanomami citam um ataque organizado de ”facção” contra os indígenas. Gravações falam em duas canoas com “mais de 20 homens armados de fuzil e metralhadora” para enfrentar os “americanos“, termo usado pelo garimpo para se referir aos índios. Em uma delas, um garimpeiro chega a dizer que há muitas pessoas baleadas no local e que “oito indígenas” estariam mortos e mais de “dez baleados”.

O Imazon apresenta a cada trimestre um relatório com base nos dados de alertas de desmatamento e um relatório anual com dados detalhados.

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Agência Brasil

Foto: Marcos Amend/Greenpeace

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