De mata aberta a espaço urbanizado e de oportunidades, Matinha completa 128 anos

Carinhosamente conhecido como Matinha, o bairro Presidente Vargas, na zona Sul de Manaus, completa 128 anos nesta quarta-feira (15/9). O que antes era apenas uma região de mata aberta e cercada por igarapé, virou um espaço urbanizado e de oportunidades para muita gente que, apesar do tempo, não ousa arredar o pé do local.

Em 2020, aproximadamente 500 famílias foram beneficiadas com as obras de urbanização que melhoraram o dia a dia delas, nos quesitos mobilidade urbana, saneamento básico, lazer e prática esportiva. Foi um alento em meio ao problema da pandemia de Covid-19, que também vitimou um dos célebres filhos do bairro, o cantor Zezinho Corrêa.

Tristezas à parte, a Matinha continua charmosa, encantadora e é motivo de orgulho para pessoas simples como o pedagogo Silas Laranjeiras, 53. Morador há muitos anos da travessa Boa Sorte, ele coleciona fatos e fotos de uma história pujante. Entre as mais recentes, está o primeiro torneio de futebol masculino e feminino, realizado no fim de agosto, no “Campo da Mimosa” (Bariri), sob a coordenação do senhor Evaldo e equipe.

“Tenho orgulho de morar aqui e busco sempre fazer o melhor pelo bairro, com a ajuda da família e de amigos, que possuem o mesmo sentimento de gratidão e amor por essa belíssima parte de Manaus”, comenta Silas.

Além do esporte, que já formou craques como Mário Jorge (conhecido como Mário Kemps), Jorgemir (in memoriam), Rui, Arthur (ex-goleiro de Nacional, Fast e tantos outros), Melo, Didico, Dibo e os irmãos Meyeber, Wagnel, Werdy e Weber, a Matinha também é conhecida pelas atividades culturais que realiza.

O ambiente, que já foi palco de verdadeiros points, como a antiga Toka do Judeu, hoje brinda a população com estabelecimentos como a casa “Du Maestro”, localizada no início da rua Barcelos, canto com a orla; o Bar do Didico, cujo diferencial é a famosa “Sexta-feira da Saudade”, na Rua da Legião; o Bar do Sulipa, no Bariri, e o Bar do Breno, na Boa Sorte.

Para os mais saudosos, tem também o Bar do Seringueiro (do seu Waldomiro) e o boteco do Edgard, ambos na Rua Ayrão.

“No Du Maestro, temos samba de raiz, MPB, samba enredo, toadas… É opção para todos os gostos”, destaca Silas.

E com tanto local bom para curtir, não poderiam faltar os astros da festa, além do próprio Zezinho Corrêa (in memoriam). E olha que não são poucos: Casagrande (in memoriam), Onécio, Biju, Saúba, Zé Pneu, Zé Pretinho (in memoriam), Cássio Casagrande, Léo Monteiro, Fábio Casagrande, Carlinhos do Boi, Júnior Lima, Isaac Júnior (jornalista e músico), Célio e Paulinho Medeiros (compositores de mão cheia) e tantos outros.

“Sempre morei na Matinha, na Rua da Paz, e minha família é do bairro. Não me vejo em outro local”, costuma comentar o advogado e levantador de toadas Carlinhos do Boi.

Outros três fatores positivos que integram a história do local é a Escola de Samba Presidente Vargas, o bloco “Pé Inchado”, as quadrilhas juninas coordenadas pelo conhecido mestre “Dando”, e a popular Dança do Café, organizada nos anos 1980 de forma genial por integrantes do grupo de jovens católico intitulado “Cristãos Ligados na Amizade (Clam)”. Essa dança, aliás, rompeu os limites da quadra da paróquia de Santa Luzia e se apresentou em vários cantos da cidade; sempre com grande referência e competência, durante as festividades folclóricas.

Religiosidade

A questão religiosa também é expressiva, principalmente entre os católicos. O ponto alto dessa fé pode ser conferido no dia 13 de dezembro, quando é realizada a procissão anual de Santa Luzia, a padroeira do bairro.

Mas, as cerimônias também acontecem na igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e em sedes de outras denominações, que compõem a diversidade religiosa formada por cristãos, espíritas e até afro-brasileiros.

Comércio

O comércio é outra força do bairro Presidente Vargas. Locais que já não existem mais como o açougue do seu Joaquim (Rua Santa Quitéria), as tabernas da dona Perpétua, do seu Norberto, do seu Ranulfo (in memoriam, pai de Zezinho Corrêa) e o restaurante Brasiluso, “passaram o bastão” para os mercadinhos Garantido, 5 Estrelas, Jéssica… E tem ainda outros dois comércios mais antigos, sempre lembrados por moradores e ex-moradores: o do pai do advogado Rômulo Corrêa (o Chape-Chape), senhor Plácido, que ficava em frente à igreja de Santa Luzia; e o do pai do médico Olavo Corrêa, senhor Osvaldo, localizado na Rua 1º de Maio.

Há quem recorde, ainda, da taberna do seu Rubens e, principalmente, do seu Murilo, que ficava na esquina da Ayrão com a Constantino Nery, onde funcionou também o famoso Bar Uiraktan.

Outros pontos comerciais resistem ao tempo e não foram esquecidos, pela qualidade que apresentam nos produtos e pela presteza no atendimento. É o caso da padaria da dona Esmeralda, da oficina do Caetano (Rua 1º de Maio), do estaleiro do Bariri, da oficina do Vavá, além do quiosque da Japonesa. Esses dois últimos, localizados na Rua Santa Quitéria.

A Matinha também gera emprego e renda por meio da Empresa Industrial de Juta (Jutal), que sobreviveu à revitalização e continua intacta na Rua da Paz;  Tomaselli Som e escolinha Recanto dos Anjos, também na Santa Quitéria.

Atividades espontâneas

Com a modernização do bairro, surgiram os projetos voltados para a preservação ambiental. O maior exemplo é  o “Cuidando das Plantas”, que se completa com as atividades de limpeza da orla, feitas de 15 em 15 dias e de forma espontânea pela Associação Socioambiental Amigos da Orla da Matinha.

História

O antigo Morro do Tucumã tem as raízes datadas nos anos 1890. O nome Matinha surgiu na metade do século 20, devido ao intenso matagal, habitado por poucas residências, construídas de taipa e palha.

O progresso no local teve início na primeira metade do mesmo século e se concretizou com a instalação de olarias, serrarias e a fábrica Jutal.

De acordo com o último Censo, até 2010, a Matinha possuía uma população de 7,9 mil habitantes, mas estima-se que esse número tenha chegado a 9,3 mil nos últimos anos, apesar da saída de muitos moradores para outros bairros, por conta da revitalização.

 

 

 

Texto: Isaac Júnior/Edição Norte

Fotos: Divulgação

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