Entenda como ocorrem queimadas na Amazônia, uma floresta tropical úmida

Nesta segunda-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que a Amazônia não poderia pegar fogo por ser uma “floresta úmida” – mas a declaração trata-se de uma “desinformação”, afirmou a bióloga e professora da Universidade de Brasília, Mercedes Bustamante, em entrevista à CNN.

“A Amazônia é uma floresta tropical úmida, mas o que precisamos considerar é que a floresta esta sob impactos de alterações induzidas pelo homem. Quando há processos de desmatamento, [ele] fragmenta a floresta em pequenas unidades e aumenta o ‘efeito de borda’: a borda da floresta vai ficando mais seca e mais suscetível aos incêndios florestais”, explica a professora.

Bolsonaro fez as declarações durante abertura do Invest in Brazil Forum (evento com investidores), em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Para o presidente, os ataques que o país sofre pelos índices de queimadas e desmatamento “não são justos”.

“Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato. Uma viagem, um passeio pela Amazônia é algo fantástico… Até para que os senhores vejam que a nossa Amazônia, por ser uma floresta úmida, não pega fogo, que os senhores vejam, realmente, o que ela tem”, disse.

Para Mercedes Bustamante, tanto dados de monitoramentos por satélite realizado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) quanto o entendimento científico acumulado até o momento sobre o tema mostram que existe uma “transformação do sistema amazônico”.

Segundo dados de áreas devastadas pelas queimadas em 2021, o Inpe identificou 217.239 km² afetados dentre os seis biomas brasileiros até o final de setembro. Os dados são do mapa de área queimada elaborado pelo órgão.

O bioma mais afetado foi o Cerrado, com 124.021 km² queimados. Em seguida, estão a Amazônia, com 37.938 km², e a Caatinga com 22.282 km². A Mata Atlântica aparece em quarto com 19.203 km², seguida pelo Pantanal (13.645 km²) e pelo Pampa (1.150 km²).

“Hoje, infelizmente, a floresta está na convergência de três fatores de pressão: desmatamento, degradação e as mudança climática. Isso vem mudando as condições ecológicas, o que faz que o fogo se torne mais presente na região”, afirmou a professora.

Entre as ações que impactam na região, Bustamante aponta que a retirada seletiva de madeira decorrente do desmatamento “abre a cobertura da floresta, permite a entrada de mais radiação solar e cerca a floresta, tornando-a suscetível aos incêndios”.  Além disso, fogo colocado propositalmente na floresta, neste contexto, também colaboram para a propagação de grandes queimadas.

Em seu discurso, Bolsonaro também disse que a floresta estaria “exatamente igual de quando foi descoberto no ano de 1500”. No entanto, Mercedes Bustamante também contestou a afirmação e disse que, em determinadas áreas, há temores até de que seja atingido um ponto de não retorno da degradação alcançada.

“Não estamos neste mesmo patamar. Temos quase 20% da Amazônia desmatada, e a gente agrega cerca de 18% da área que esta em processo de degradação. Em algumas regiões, nas que conhecemos como arco do desmatamento, a gente percebe uma transformação que leva essa região ao que se chama de ponto de inflexão, quando se perderia as condições de ter ali uma floresta tropical úmida”, afirmou.

Para a bióloga, apesar da postura do Brasil na COP26 ter sido “bem-vinda” pela mudança de postura em relação às negociações ambientais, as metas mais ambiciosas – como a de zerar o desmatamento até 2030 – precisam vir acompanhadas de reconhecimento e mudança de postura.

“É preciso aceitar a realidade do desmatamento, que ele existe e precisa ser combatido. Não basta ter assinatura de uma acordo em uma semana e uma declaração contraditória como essa na semana seguinte”, disse a bióloga.

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: CNN Brasil

Foto: Reprodução

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