Grupo de amigos volta a se encontrar depois de 30 anos para celebrar a vida em comunidade
Por: Isaac Júnior
Eles se conheceram ainda muito jovens na paróquia de Santa Luzia, bairro Presidente Vargas (Matinha), na zona Sul de Manaus, e travaram uma luta incansável por amor, justiça, igualdade e fraternidade, que começou ainda no período em que o Brasil vivia um momento conturbado, sob o sistema de uma ditadura. Mas, motivados pelo surgimento de vários movimentos sociais e religiosos, encararam os desafios e, aos poucos, levaram o nome de Cristo e do próprio grupo aos quatro cantos da cidade – e até a famílias esquecidas das zonas rural e ribeirinha -, numa trajetória que começou no fim dos anos 1970 e foi até 1990.
Hoje, a maioria já ultrapassou a casa dos 50 anos, mas o espírito e a busca incessante pelo crescimento na fé, consciência crítica e na caridade continuam firmes, agora também em família. E é nesse sentido que, após três décadas, eles resolveram se juntar novamente para celebrar a vida em comunidade, num grande encontro intitulado: “30 Anos depois: Cristãos Ligados na Amizade, você faz parte dessa história”.
O evento ocorre neste sábado (20/11), às 19h15, com a participação de aproximadamente 100 pessoas, na quadra de esportes da paróquia Sagrado Coração de Jesus, situada na rua Ferreira Pena, área central da capital amazonense.
Planejada durante meses por uma equipe que reúne integrantes de todas as fases do grupo, a programação prevê apresentações musicais, homenagens, jantar especial e algumas surpresas, tudo dentro das normas estabelecidas pelas autoridades de saúde, no enfrentamento à pandemia de Covid-19.
“Será um momento especial para nos confraternizarmos, rever amigos que não vemos há anos e também lembrar daqueles que nos deixaram. A ideia nos foi passada pelo Hilton e o Bob, que fazem parte da geração mais recente, e aí, juntos, fomos formatando todo o restante com os demais integrantes da comissão. Aproveito para agradecer a todos que colaboraram de forma direta ou indiretamente, e fazer novamente o convite para que não deixem de comparecer, pois será um momento muito especial”, avisa Valdenor Silva, de 57 anos, um dos coordenadores do evento.
Ao fazer referência a uma das virtudes do grupo, que é a caridade, Valdenor lembra que uma caixa será colocada logo na entrada da quadra, para receber alimentos não perecíveis, que serão coletados e entregues a famílias carentes da Matinha. Ele enfatiza, porém, que a doação não é obrigatória, fica a critério de cada convidado.
“Vamos poder lembrar dos anos em que fazíamos ações sociais como pedágio para ajudar famílias do bairro; quando nos envolvíamos de corpo e alma para realizar o Reticlam, o arraial e até shows musicais inesquecíveis como o do Teixeira de Manaus. Quem não lembra das nossas reuniões semanais aos sábados à noite? Do envolvimento em atividades como a catequese? Dos círculos bíblicos? Das comunidades eclesiais de base? Das procissões de Santa Luzia? Da Dança do Café, formada pela maioria desses jovens? E por aí vai…”, destaca o coordenador.
Mensagem
Apesar de ser um dos idealizadores e participar de todo o processo de organização, o funcionário público e pastor evangélico Hilton Santos, de 51 anos, citado por Valdenor, não poderá participar do encontro. Mas, antes mesmo de seguir para a capital federal, onde foi morar e trabalhar, aproveitou para deixar uma mensagem de fé e otimismo àqueles que irão estar no evento.
“Sonhei com este reencontro e me doei muito para ele acontecer. Estou feliz por saber que finalmente vai se realizar. Vou mandar um vídeo, para não ficar fora desse momento. Estarei aqui para ajudar no que estiver ao meu alcance e tenho certeza que vai ser uma noite inesquecível. Contem comigo, sempre”, escreveu.
Muitos frutos
Para Lana Soares, de 57 anos, uma das pioneiras do Clam e também uma das organizadoras, a história do grupo representa muito para esses jovens, principalmente, porque gerou muitos frutos.
“Era um serviço da igreja, com jovens em ação e comunhão e, como o próprio nome diz, ligados na amizade. Foi um marco para todos nós. A convivência e a troca de conhecimento moldaram essa juventude em suas descobertas. Por meio dos debates, das ações sociais e da espiritualidade fomos nos conhecendo e, o mais importante, conhecendo a Deus, que nos uniu para continuar a evangelização no vigor da jovialidade. Assim foi esse grupo de jovens, que nos deu muitos frutos e nos faz recordar de tudo isso, saudosamente, após 30 anos”, sintetiza Lana.
Aprendizado
Na avaliação do hoje professor Dionésio Abreu, de 56 anos, o Clam ainda está vivo na mente e na vida das pessoas. Assim como ele, muitos seguiram caminhos diferentes, mas, baseados no pouco que aprenderam, assumiram virtudes e hoje podem aconselhar pessoas, educá-las, orientá-las e acompanhá-las sob a orientação da Palavra de Deus.
“Muitos constituíram famílias bonitas para dar continuidade ao trabalho. O Clam serviu e ainda serve até hoje como exemplo. Para mim, eu aprendi muita coisa, tive muitas referências, pessoas muito importantes na minha vida. Hoje sou professor, porque eu tive o primeiro contato como educador na catequese, dando aula para crianças. Eu e a Carol éramos parceiros (risos). Comecei ali e o trabalho continua, porque consigo falar de Jesus aos meus alunos, faço dança e teatro com eles, artes…Tudo está vinculado ao que eu aprendi no Clam”, afirma Dionésio.
E continua…
“Nossos pais começaram tudo. Graças a Deus tivemos o privilégio de conhecê-los. Aprendemos a tomar café com eles, a compartilhar uma bolacha e um pão com eles, a gargalhar com eles. Essa família chegou até o Clam. Nunca mais vamos esquecer de pessoas importantes que passaram pela nossa vida, como dona Ana (mãe do Valdenor), Maria Marques, seu Antônio, Adelino (Dé), dona Palmira (mãe da Lana) e de outros não menos importantes, como meu pai (Lionésio), que vocês conheceram. Não importa a religião que seguimos ou o ritmo que levamos hoje, tudo foi graças à nossa juventude, que foi moldada, trabalhada e que teve esse contato direto nessa família chamada Clam. Eu agradeço e peço a Deus que abençoe a todos e que a gente continue, não deixe isso aqui perecer”, finaliza o professor.