O que se sabe até agora da investigação sobre ‘rachadinha’ no gabinete de Carlos Bolsonaro

Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) em investigação sobre desvio de recursos públicos em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio.

No esquema, chamado de “rachadinha”, os funcionários são obrigados a devolver parte do salário para o parlamentar. A suspeita é de que a prática acontecia também no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) quando era deputado estadual e no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

A investigação foi aberta por indícios de que esses funcionários lotados no gabinete de Carlos aparentemente não prestavam serviço para o vereador, conhecidos como “funcionários fantasmas”.

Segundo os promotores, o esquema revela saques de dinheiro em espécie das contas dos assessores “fantasmas”, e que são entregues a funcionários de confiança do gabinete responsáveis pela arrecadação. O dinheiro vivo é usado para pagar despesas ou adquirir bens para o parlamentar.

O MPRJ identificou que Carlos Bolsonaro manteve e utilizou grandes quantias de dinheiro vivo ao longo dos mandatos como vereador no Rio.

  • Em 2003, Carlos pagou R$ 150 mil em espécie na compra de um apartamento na Tijuca, na Zona Norte do Rio;
  • Em 2009, o vereador entregou R$ 15,5 mil, também em espécie, para cobrir um prejuízo que teve na Bolsa de Valores;
  • E, no ano passado, durante a candidatura para reeleição ao cargo de vereador, Carlos declarou ao Tribunal Superior Eleitoral ter R$ 20 mil em espécie guardados em casa.

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta duas operações financeiras suspeitas envolvendo o filho 02 do presidente. Ele aparece como sócio de uma empresa junto com a mãe, Rogéria Nantes Bolsonaro, que teria movimentado R$ 1,7 milhão, entre os anos de 2007 e 2019.

Núcleos

O pedido do Ministério Público para a quebra dos sigilos do filho de Bolsonaro também teve como alvo 26 pessoas, incluindo a ex-mulher do presidente Ana Cristina Siqueira Valle. Segundo o MPRJ, os assessores seriam divididos em seis núcleos, um dele de parentes de Ana Cristina.

Ela é suspeita de ser operadora do esquema no gabinete de Carlos, quando teve sete parentes empregados na Câmara, uma delas Andrea Siqueira Valle, também investigada no caso de Flávio. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a ex-mulher de Bolsonaro teve dez familiares empregados no gabinete de Flávio.

Nesta semana, notícia divulgada pelo site UOL mostrou que Ana Cristina e o filho Jair Renan moram em uma mansão avaliada em R$ 3,2 milhões no Lago Sul, área nobre de Brasília.

Mansão alugada pela ex-mulher do presidente Ana Cristina Bolsonaro (Reprodução)
Mansão alugada pela ex-mulher do presidente Ana Cristina Bolsonaro (Reprodução)

 

A residência alugada, que fica no Lago Sul, a dez minutos da ponte JK, foi comprada por R$2,9 milhões por um homem dias antes de a ex-esposa do presidente da República e seu filho se mudarem para lá.

A ex-mulher do presidente pagaria R$ 8 mil de aluguel, enquanto em casa vizinhas o valor é de cerca de R$ 15 mil por mês. Além disso, ela recebe salário de R$ 6,2 mil como assessora da deputada federal Celina Leão (PP-DF).

O Coaf também revelou que, durante o período em que era chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro, ela recebeu “depósito de elevadas quantias de dinheiro em espécie em sua conta bancária”.

Em março de 2011, Ana Cristina recebeu depósito de R$ 191 mil e outro de mais de R$ 341 mil em julho do mesmo ano. O pedido de quebra de sigilo destaca que a ex-mulher de Bolsonaro tinha um saldo de R$ 602 mil, o que seria incompatível com a renda dela, segundo o Coaf.

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook

Lavagem de dinheiro

O pedido do MPRJ mostra ainda movimentação acima da capacidade financeira cadastrada, além de transferências atípicas, podem configurar indícios do crime de lavagem de dinheiro em conta de Ana Cristina.

Os investigadores constataram também o repasse de R$ 30 mil que ela recebeu de uma tia, na época em que a parente ocupava um cargo comissionado no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa, o que sugere a prática de “rachadinha”.

Para o MP, a elevada movimentação em espécie sugere que Ana Cristina Siqueira Valle seja a destinatária dos salários pagos a parentes delas, que foram indicados para trabalhar no gabinete de Carlos Bolsonaro.

Os promotores apontam que esses parentes sequer moravam ou trabalhavam na cidade do Rio de Janeiro.

No documento, o MP diz que só depois da quebra dos sigilos será possível quantificar, com precisão, o volume de recursos desviados dos cofres públicos – pelos crimes de peculato, presentes nas “rachadinhas”, e seguir o destino do dinheiro público desviado.

Defesa

A defesa de Carlos Bolsonaro afirmou que ele “permanece à disposição para prestar qualquer tipo de esclarecimento”. Em nota, disse ainda que os gastos do vereador são compatíveis com seus rendimentos.

Já a defesa de Flávio Bolsonaro afirmou que “está impedida de comentar detalhes porque o caso está em segrego de Justiça e todas as informações pertinentes foram e serão prestadas nos autos”.

A defesa de Ana Cristina Siqueira Valle informou que “apenas se manifestará nos autos do processo uma vez que os mesmo tramita em segredo de justiça”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *