Pedagoga transforma a própria casa em sala de aula e leva educação ambiental à comunidade ribeirinha do Purupuru (AM)

Imagine uma criança acordar todos os dias bem cedinho, apanhar a canoa, atravessar o rio a remo e andar quilômetros a cavalo ou a pé, só para chegar até a escola e ter a alegria de se reunir com outras crianças para estudar. Assim é a rotina dos alunos da Escolinha Bom Saber, localizada na comunidade Santa Maria, na Cabeceira do Purupuru, quilômetro 22 da BR-319, município Careiro Castanho (a 124 quilômetros de Manaus).

Ousado e moderno, o projeto ambiental foi criado em fevereiro de 2019 pela pedagoga Andréia Deodato, que precisou fazer da própria casa, uma sala de aula, para poder ministrar as aulas, com o apoio de mais duas professoras e uma voluntária.

A iniciativa tem como objetivo, desenvolver o conhecimento e a cultura entre crianças da educação infantil, de forma lúdica e adaptada às diferentes realidades vividas pelos estudantes. Tudo dentro de uma convivência harmoniosa e respeito mútuo, proporcionados em um local de difícil acesso aonde o poder público chega, mas de forma limitada, em termos de educação.

“Até há uma escola municipal na localidade, mas lá, eles não dão a educação adequada; deixam a desejar em muita coisa. O poder público é limitado na educação, não tem projeto sobre a importância do meio ambiente. Nosso trabalho abrange bulling, educação ambiental, dentro do contexto em que vemos o mundo, linkado às novas tecnologias. Nossos alunos não podem ficar presos ao passado, no século 19, precisam acompanhar a evolução do que está ao redor deles. E é o que temos procurado fazer: trazer abertura social para os nossos pequenos, para que tenham uma educação de qualidade. Estamos falando de crianças extremamente inteligentes e adaptáveis. É muito bom trabalhar com elas”, afirma Andréia Deodato.

A escola sobrevive de doações e não está vinculada a nenhuma secretaria de educação. Para receber os alunos e avançar com o projeto, a pedagoga teve de abrir mão de muita coisa, e parece não se arrepender nenhum pouco disso.

“Sou pedagoga e resolvi mudar a qualidade de ensino na minha comunidade, porque vi que faltava muita coisa. Trabalhamos para desenvolver, promover a alfabetização e aumentar a qualidade do aprendizado. Estamos cientes das dificuldades, mas nem por isso, nossos alunos deixam de vir à escola. Temos uma barca sem cobertura, que nos auxilia no transporte pelo rio, e uma Kombi, que ajuda na locomoção por terra. As demais crianças chegam de canoa, cavalos e ate a pé, mas chegam”, sintetiza Andréia.

Doações
O trabalho todo é executado, graças a ajuda de vários mantenedores e de outras pessoas simpáticas com a abrangência do projeto, segundo a pedagoga. A doação mensal fica entre R$ 40 e R$ 100, e é administrada de forma racional pela escola.

“É um dinheiro que nos auxilia na compra de gasolina, na merenda balanceada e na passagem de profissionais como fonoaudióloga e psicóloga, que dão uma ajudazinha extra ao projeto”, ressaltou a pedagoga.

Pandemia
De forma alternada, aproximadamente 40 crianças já passaram pela Escolinha Bom Saber. Atualmente, por conta da pandemia do novo coronavírus, o local é frequentado apenas por 12 estudantes. Tudo dentro das normas estabelecidas pelas autoridades de saúde, no enfrentamento à Covid-19.

Sobre a pedagoga
Andréia Deodato tem 36 anos e é formada pelo Centro Universitário Unifacvest, cuja sede funciona no município de Lajes, em Santa Catarina. A pedagoga atua na área de educação há quatro anos e, atualmente, trabalha num novo projeto, o “Conhecer o Amazonas”, no qual pretende levar crianças do Purupuru a conhecer locais públicos de Manaus, como o teatro Amazonas, o Museu do Índio e outros, além de produzir uma horta comunitária no âmbito da Escolinha Bom Saber, com ajuda de amigos que também atuam na área.

Andréia está em Manaus e fica durante todo este fim de semana, à disposição de quem quiser conhecer mais o trabalho realizado por ela e equipe no Careiro Castanho. O contato dela é o (92) 98522-4798.

As fotos mostradas nesta matéria são de atividades realizadas antes da pandemia.

 

Texto: Isaac Júnior/Edição Norte

Foto: Divulgação

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