Revezamento da Tocha Olímpica começa entre esperança e temor
Com acenos, sorrisos e serpentinas, mas sem gritos, o revezamento da Tocha Olímpica começou nesta quinta-feira (25), dando início à contagem regressiva de quatro meses para a edição adiada do Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, no Japão, a primeira edição sediada durante uma pandemia mortal.
Colocando de lado as comemorações já reduzidas por conta dos protocolos contra o coronavírus, a Coreia do Norte lançou dois mísseis balísticos de curto alcance antes do início do revezamento em Fukushima, área fortemente atingida por um terremoto, tsunami e o desastre nuclear de 2011.
“No ano passado, enquanto o mundo inteiro enfrentava um período difícil, a Chama Olímpica foi mantida viva de maneira silenciosa, mas poderosa”, disse a presidente do Comitê Olímpico, Seiko Hashimoto, em uma cerimônia de abertura fechada para espectadores.
“A pequena chama não perdeu as esperanças e, assim como os botões da flor de cerejeira, que estão prontos para florescer, ela estava esperando por este dia”, completou Hashimoto.
Com os organizadores chamando os jogos de “Olimpíada da Recuperação”, um aceno para o desastre e também para a pandemia, os corredores de quinta-feira incluíram muitos desabrigados que fugiram de suas casas após o colapso na usina de Fukushima Dai-ichi.
“Nasci e cresci nessa cidade, nunca pensei que um revezamento da Tocha seria realizado aqui — disse Takumi Ito, de 31 anos, em Futaba, uma das cidades mais atingidas pelo desastre nuclear. — Ainda estamos lidando com a pandemia do coronavírus, mas acho ótimo conseguirmos parar reinfecção.
Com cerca de 9 mil mortes por conta da doença, o Japão se saiu melhor do que a maioria dos países, mas Tóquio relatou 420 novos casos na última quarta-feira, maior número em um único dia neste mês. Pesquisas indicam que a maioria do público se opõe à realização da Olimpíada conforme o programado.
Aproximadamente 10 mil corredores irão participar do revezamento ao longo de quatro meses, que passará por todas as 47 prefeituras japonesas.
Executivo do comitê organizador de Tóquio 2020, Toshiro Muto disse que o primeiro dia do revezamento foi tranquilo e que os organizadores foram capazes de manter um distanciamento social adequado entre os espectadores.
Questionado por um repórter sobre o que a produção planeja fazer se alguma prefeitura declarar estado de emergência sobre a propagação do vírus, Muto disse que consideraria celebrações alternativas em vez do revezamento.
Sem plateia
O revezamento, que culminou com a cerimônia de abertura olímpica em 23 de julho, teve a participação de corredores de alto nível cancelada, já que celebridades e atletas de alto desempenho alegaram atrasos e preocupações com a pandemia.
A breve e solene cerimônia de abertura foi realizada no J-Village, em Fukushima, complexo esportivo convertido em um palco para os trabalhadores que desativaram a usina nuclear danificada.
“Para a visualização do revezamento da Tocha, certifique-se de que está usando uma máscara e mantenha a distância adequada. Não fiquem próximos uns dos outros e comemorem de formas como batida de palmas, em vez de usar uma voz alta”, disse um locutor.
Jogadoras da seleção japonesa de futebol feminino foram as primeiras a correr com a chama, vestindo uniformes brancos, decorados com vermelho.
O número de espectadores, alguns agitando bandeiras olímpicas ou serpentinas de pano em forma de carpa, aumentou ao longo do dia, variando de crianças em idade pré-escolar com bonés coloridos a idosos batendo palmas em frente a árvores floridas. A maioria se manteve na beira da estrada, distante uns dos outros e com máscaras.
Alguns corredores sorriram e posaram enquanto entregavam a tocha, acenando, enquanto outros passavam ao som da tradicional bateria japonesa. Um homem se empurrou na cadeira de rodas em direção à tocha montada em um suporte.
Alerta
Embora os organizadores dos Jogos em Tóquio insistam que a Olimpíada irá ocorrer, médicos e enfermeiras reclamaram da pressão sobre os hospitais e especialistas alertam sobre a disseminação de variantes do vírus.
O Japão foi o último do grupo dos sete países industrializados a lançar uma campanha de vacinação. Apenas 700 mil pessoas foram imunizadas até agora, a maioria profissionais da área da saúde.
Depois que o revezamento da tocha terminou, dezenas de manifestantes se reuniram no centro de Tóquio, segurando cartazes pedindo ao Japão para cancelar o evento.
Toshio Miyazaki, de 60 anos, que organizou o comício anti-olímpico, disse estar preocupado com a disseminação do vírus devido aos atletas e equipes visitantes.
“Não faz sentido realizar a Olimpíada que ninguém apoia”, disse Miyazaki, que trabalha para o governo metropolitano de Tóquio.
Apreensão
O Japão gastou quase 300 bilhões de dólares para revitalizar a região de Fukushima, mas muitos locais estão apreensivos com os Jogos, já que algumas áreas permanecem proibidas e as preocupações com a radiação persistem. A desativação da planta atingida levará até um século.
Um manifestante dirigindo uma van perto do revezamento gritou em um alto-falante, questionando como a Olimpíada pode contribuir para a recuperação da região.
“Vocês devem estar brincando”, disse o homem.
Fonte: O Globo
Foto: Reprodução/Instagram