Rios Negro e Solimões já atingiram cotas de inundação severa
A população das cidades de Manaus e Manacapuru (a 84 quilômetros de Manaus), no Amazonas, pode estar prestes a presenciar a maior cheia dos rios Negro e Solimões já registrada desde que os serviços hidrológicos começaram a monitorar o comportamento das águas no estado. Segundo a Defesa Civil estadual, aproximadamente 108 mil pessoas já foram atingidas por recentes inundações em todo o estado.
Ao participarem da divulgação de um novo alerta de cheias, realizado nesta sextas-feira (30) pelo Serviço Geológico do Brasil, especialistas destacaram que os níveis dos rios Negros, em Manaus, e Solimões, em Manacapuru, já atingiram suas respectivas cotas de inundação severa, e continuam subindo em ritmo acelerado e acima do considerado normal para esta época do ano.
A cota de inundação severa é a maior dentre as quatro marcas limites de monitoramento estabelecidas pelo Serviço Geológico, acima da cota de inundação, atingida quando os primeiros danos ou contratempos decorrentes da cheia de um rio são registrados.
Segundo a pesquisadora do Serviço Geológico Luna Gripp Simões Alves, próximo a Manaus o nível do Rio Negro chegou, hoje, a 29,03 metros, superando a cota de inundação severa, que é de 29 metros. De acordo com Luna, há grandes chances de que, com a continuidade das chuvas, o nível do rio chegue, e até mesmo ultrapasse, os 30 metros de profundidade nos próximos meses.
“Em termos probabilísticos, é seguro afirmar que o nível do Rio Negro deve atingir entre 29,50 metros e 30,50 metros. Ou seja, a depender das chuvas, é grande a probabilidade de ocorrer uma cheia tão severa quanto a de 2021, quando o nível atingiu 29,97 metros. Precisamos estar preparados”, alertu a pesquisadora ao comentar os possíveis reflexos para a capital manauara.
“O problema não está relacionado tanto ao nível do rio. [Inicialmente] o que ocorre é que, a partir do momento em que o Negro atinge a cota de 29 metros, a rede de esgoto começa a ficar obstruída, a água não escoa e começa a alagar a região central e alguns bairros da cidade”, explicou Luna. “É bem provável que isso não demore a acontecer e que, ao longo das próximas semanas, comecemos a observar o entupimento dos bueiros e o extravasamento de água na região central de Manaus.”
Na altura de Itacoatiara o Rio Negro já atingiu 14,61 metros. A cota de inundação severa na região é de 14,20 metros, e o nível mais alto já registrado ocorreu em 2009, quando chegou a 16,04 metros.
Em Manacapuru, o nível do Rio Solimões, que já havia superado a cota de inundação severa, de 19,60 metros, chegou, hoje, à marca de 19,86 metros. O Serviço Geológico estima que o volume d’água no Solimões pode chegar a 20,80 metros, superando a maior marca já registrada: 20,78 metros, em 2015.
Meteorologista do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) Renato Senna alertou que, nos próximos três meses, o volume de chuvas sobre a bacia do Rio Negro, já bastante intensos, tendem a aumentar. A situação deve ocorrer também em outras regiões.
“O Censipam prevê chuvas acima dos padrões climatológicos para o sul de Roraima e para o norte e o noroeste do Amazonas, o que afetará o comportamento das bacias dos rios Negro, Japurá e Içá, bem como o curso do Amazonas e a calha do Solimões”, comentou Senna.
Emergência
De acordo com o secretário adjunto da Defesa Civil do Amazonas, Clóvis Araújo Pinto, há, no estado, 14 cidades afetadas pela elevação do nível das águas dos rios em estado de emergência: sete da calha do Juruá (Guajará; Ipixuna, Eirunepé, Envira, Itamarati, Carauari e Juruá); cinco da calha do Purus (Boca do Acre, Pauini, Lábrea, Canutama e Tapauá) e dois na calha do Madeira (Borba e Nova Quinca do Norte).
Além desses, estão em estado de alerta outros 30 municípios nas calhas do Purus, Madeira, Alto Solimões, Baixo Solimões, Médio Amazonas e Baixo Amazonas, além da cidade de Manaus, na calha do Rio Negro.
“Já estamos em operação para socorrer e atender aos municípios”, disse Pinto, endossando o alerta feito por Luna e por Senna. “Temos a perspectiva de que outras calhas sejam afetadas entre abril e junho.”
Um primeiro alerta de cheias para este ano já havia sido divulgado no dia 4. O terceiro e último está previsto para ser veiculado em 31 de maio.